O encerramento das escolas e o ensino à distância, que nesta fase considero mais ensino remoto, empurrou-nos para uma nova realidade – a nós, às famílias e aos alunos. A adaptação tem sido gradual, mais difícil para uns do que para outros. Como nos diz o dr. António Moreira “foi e é imperativo a incorporação de ferramentas diversificadas para que se continue a desenvolver o processo de ensino-aprendizagem”. As nossas casas e as das famílias transformaram-se em ambientes inovadores. Contudo, muitas questões se colocam, bem como desafios para que tudo funcione à distância, neste ensino digital.
Num mundo em que a evolução tecnológica marca o quotidiano das sociedades e o acesso às tecnologias está cada vez mais facilitado, impõe-se uma reflexão sobre os desafios com que somos confrontados, como profissionais comprometidos na melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
Ser professora da Educação Especial
Como professora da Educação Especial, a apoiar alunos com necessidades educativas especiais, senti-me assoberbada por obstáculos colocados por parte das famílias, dos alunos e da minha formação. Apesar de ao longo da minha carreira fazer uso de variadas ferramentas digitais na elaboração e construção de materiais adaptados, a conclusão a que cheguei é que pouco sabia sobre o assunto. Quando consideramos a escola com todas as suas múltiplas e complexas variáveis, as rápidas mudanças que ocorrem com a própria tecnologia e a ausência de um plano de como a integrar no processo de ensino-aprendizagem , não é difícil compreender que a adaptação dos professores à tecnologia possa não ser fácil ou célere. As novas tecnologias invadiram todos os níveis de ensino e ditaram uma nova forma de estar no espaço educativo. Essa alteração coincidiu com a emergência de um novo paradigma de ensino centrado no aluno e na promoção de estratégias que procuram torná-lo cada vez mais autónomo. Neste novo contexto, o papel do docente foi redefinido e a sua missão deixou de ser ensinar conteúdos, mas ensinar a aprender.
Analisando o meu percurso, chego à conclusão que fiz uso das ferramentas digitais para a construção de material que se convertia em papel. Mas como chegar ao outro lado do monitor (tablet/telemóvel/computador)? Se no ensino presencial o processo de ensino-aprendizagem é complicado para as crianças com necessidades especiais, como dinamizá-lo com um ecrã entre nós? Vem à minha mente que ”When teaching online, you have to develop certain skills that you typically do not think twice about when working with students face-to-face.”( Anderson; Bellow; Byrne; Couros; Ferlazzo; Kolbert; Larkin; Plough; Still; Tenkely; Tolisano, 2010).
Mas do outro lado temos outro mundo, outra realidade, o das famílias: cada criança, cada família e cada contexto é diferente e foi imperativo um combate às desigualdades sociais. A equidade de acesso ao currículo é uma questão que sempre me preocupou e procurei dar resposta, reinventando alternativas e optando por meios diversificados.
Incorporação das tecnologias
A incorporação das tecnologias no processo educativo foi um salto imprescindível para o ensino no momento atual. Acredito que antes de mais “é necessário conhecer os softwares, perceber o que se pretende com a sua utilização do ponto de vista pedagógico e perceber se o recurso é o mais adequado para o efeito.”(Moreira; Monteiro, 2015). O acesso às tecnologias de informação e comunicação abre a porta a uma multiplicidade de ferramentas e plataformas. Estas incluem hoje, para além dos computadores e da Internet, um conjunto cada vez mais vasto de tecnologias de pequena escala: portáteis, tablets, netbooks, mas também telemóveis, iPads, iPods e iPhones. Cabe a cada escola oferecer alternativas e propostas que se adaptem às características e necessidades de cada comunidade educativa e ao contexto em que se insere. Primeiro, deve ser delineado um projeto pedagógico, uma linha de ação e, após este, deverá ser selecionada a plataforma que dê resposta ao que pretendemos. Como nos propõe Lengel( 2013), compete a cada escola”(…)definir a visão da escola, planear a ação, adotar um plano e construir a Educação 3.0, monitorizar e rever”.
Com os meus alunos procurei, primeiramente, que todos tivessem acesso às tecnologias. Carvalho(2015)colocou uma questão pertinente ”se, no nosso dia a dia, os dispositivos móveis são inseparáveis da nossa vivência, porque não os usar em contexto educativo e formativo?”. Como resposta, a minha escola investiu o seu orçamento, possibilitando o empréstimo de tablets, e a Câmara Municipal disponibilizou a rede de internet móvel, ferramentas que alguns alunos necessitavam para o mobile learning. O passo seguinte foi descobrir quais as competências digitais destes pois “ (…)por vezes, parte-se do pressuposto que os alunos sabem usar as tecnologias, mas nem sempre isso acontece(…)“( Carvalho, 2015). A gamificaçāo era uma estratégia utilizada na escola, mas não lhes deu as ferramentas para saberem abrir um email, enviar um anexo, fazer um vídeo, entre outros. Esta situação veio, mais uma vez, realçar que “(…) a noção pré-adquirida de que a utilização das tecnologias digitais potencia a aprendizagem per se é tendencialmente errônea”, como nos afirma Moreira (2018:31 ).
Cada realidade é única e é necessário partir do conhecimento das competências digitais que os alunos já possuem e rentabilizá-las, recorrendo-nos das mesmas para o processo de ensino-aprendizagem. Na minha escola foi definida a plataforma Microsoft Teams como a mais adequada ao contexto, permitindo agregar várias ferramentas, criando assim um cenário de aprendizagem personalizado. Esta escolha facilitou a comunicação entre professores e alunos. As ferramentas utilizadas foram as mais fáceis e acessíveis aos alunos, permitindo autonomia na aprendizagem. Procurei combater as assimetrias de acesso ao currículo utilizando diferentes ferramentas consoante as necessidades de cada aluno, e colocando-os como elementos ativos no centro da aprendizagem. Tive em conta o ritmo de aprendizagem de cada um e procurei encontrar a ferramenta que melhor se adequava e que os motivava para a aprendizagem. Com base no conhecimento das fragilidades de cada um construí material adaptado, realçando o quanto é importante que o “professor se atreva a construir o seu próprio material audiovisual através de softwares de fácil utilização”. Com esse fim, tendo em conta o domínio tecnológico de cada aluno e a panóplia de recursos educativos abertos e tecnologias existentes, optei pelos seguintes: Whatsaap, Microsoft Teams, Youtube, Jitsi, Wordwall, Learningapp , Neardpod, Googledrive, Socrative, Khaoot, Paint& Draw, Filmigo e Whiteboard. Criei um ambiente virtual de aprendizagem onde semanalmente era disponibilizado o GPS e os conteúdos digitais. A leitura avançada, como ferramenta do Microsoft Teams, ajudou imenso em todo este processo. Claro que para chegar a este ponto do percurso foi necessário, previamente, um trabalho de orientação e esclarecimento de dúvidas na utilização de todas as ferramentas que cada um iria utilizar.
Quais pressupostos e critérios devemos usar para selecionar as plataformas e as tecnologias digitais mais adequadas para desenvolver o processo de ensino e aprendizagem?
Para responder à questão colocada, considero que “a plataforma é que nos deve servir” como refere o Dr. António Moreira, e será aquela que, em função do universo de alunos que temos, permita, de forma fácil, que todos os alunos acedam e realizem as tarefas/atividades e consigam ganhar autonomia no seu manuseamento. Não existe uma só solução ou uma melhor: existem soluções diferentes que servem realidades diferentes.
Resumindo, as ferramentas digitais utilizadas devem ser aquelas que dão resposta às nossas intencionalidades pedagógicas, dependendo do contexto e dos atores envolvidos. É fundamental que permitam criar autonomia e ajudem os alunos a gerir o seu tempo impulsionando a comunicação e o espírito crítico. Contudo, sem o acesso às tecnologias e sem as competências adequadas, todo este ensino digital não seria possível.
O caminho a percorrer ainda é longo e o desenvolvimento da era digital é infinito, mas não nos podemos esquecer que a tecnologia ao serviço do ensino favorece o aluno, ensina a aprender, tornando o processo mais atrativo e, desta forma envolvemos “(…) o aluno numa aprendizagem ativa e interativa” (Carvalho, 2015).
Imagem de Alexandra_Koch por Pixabay

Autora:
Paula Rodrigues, educadora de infância , licenciada, especializada em Problemas Graves pelo Instituto Politécnico do Porto, a exercer funções desde 1994. Vive na Ilha da Madeira, Portugal. Entusiasta e defensora da Educação Inclusiva.